novembro 30, 2005

O Mundo do Sono



Eu acordava e voltava a adormecer. Eu acordava e sabia que o dia existia depois do quarto sozinho e fechado, depois da penumbra. Eu voltava a adormecer e era inundado pelo mundo do sono. Quando acordava, tentava agarrar-me a esses instantes enquanto tentava que qualquer movimento me despertasse completamente, mas voltava a adormecer, e não sei quanto tempo passava até voltar a acordar, e o quarto, e o dia, e passava um momento, e voltava a adormecer. Depois houve uma vez em que acordei e, sem explicação, estava completamente desperto. Não voltei a fechar os olhos. Esfreguei os olhos com as mãos fechadas. Não pensei nas vezes em que tinha acordado e adormecido. Acordei.
José Luís Peixoto, Uma Casa na Escuridão

novembro 20, 2005

conservadorismos idiotas. mais do que idiotas.

e como, simplesmente, não me apetece estar com grandes rodeios vou directo ao assunto.serei eu um "picado" ou um "maricas" só por ter decidido fazer um ou dois furos na merda da orelha? não, claro que não. nem eu nem ninguém que o decidiu, voluntariamente, fazer, independentemente da quantidade e/ou sítio dos furos. que eu saiba, vivemos (supostamente) num regime liberal, que privilegia e respeita todas as liberdades individuais, desde que não perturbem directa ou indirectamente a nossa sociedade. e agora pergunto: fazer um furo no corpo não é uma opção pessoal, digna de ser respeitada? existem tantas coisas que, apesar de absolutamente intoleráveis, se continuam a tolerar. o que custa tolerar isto também? sigamos o exemplo de outros países como o Brasil ou a Alemanha, que não sofreram mais com isso.não são uns piercings ou uns furos que fazem de nós paneleiros ou drogados. porque caso assim fosse, poderíamos com certeza afirmar que grande parte dos jovens portugueses, e não só, são uma cambada de homossexuais-drogados-decadentes, dignos do melhor dos manicómios. e para lá caminhariam também todos aqueles que, embora ainda não se tenham "furado", têm gosto naquilo que vêm, tal como devem ou deviam ter os "furados".não caiamos portanto neste erro de encararmos de maneira diferente, directa ou indirectamente, qualquer um que nos apareça à frente com uma orelha, ou outra coisa qualquer, furada. quantos não são os que têm muito bom aspecto e que nada fazem de jeito? muitos mais do que se possa pensar.ou será que vai ser preciso haver outro Cristiano Ronaldo a usar piercings e "furos" mais fora do comum para que isso se torne um acto banal na nossa sociedade, tal como se tornou a crista, antes encarada como um visual de anti-sociais e drogados que não tinham qualquer vida? pois é.. infelizmente, é assim que a sociedade portuguesa altamente conservadora funciona. e pelo que parece, a situação está para durar. felicidades e boa sorte.

imagem: Julien P.

novembro 19, 2005

when everything's over



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quando tudo parece cair, se é que já tudo não caiu.